Um solo de blues
Perdida em sonhos que nunca se
realizarão, vesti minhas v.ontades e fugi para o bar mais próximo dos meus
desejos. Cheguei, aquela esquina, duas mesas de sinuca, meia dúzia de gatos
pingados, um homem e sua guitarra. Ele devorava cada compasso, cada nota
daquele blues rasgado. Eu, meu whisky, minha solidão, e de fundo, meus
sentimentos sendo tocados por cordas de guitarras enferrujadas e um homem só,
cobrindo seus medos com suas levadas doloridas de um blues.
Eu só queria me sentir invisível,
só queria beber minha bebida e esquecer das dores que assolam meus pensamentos,
porém, aquele ghomem, aquela música, todo aquele ambiente esquecido, me levava a
desejar.
Sentei-me a frente dele, eu, meu
vestido curto, meu whisky, meu cigarro, e seu blues. A boca pintada de
vermelho, os g verdes borrados de rímel mirando, vorazmente aqueles dedos
brincando de dançar.
Ele não me olhava
ele nem notava
ele só tocava
só queria jogar..
jogar todos seus medos em
sintonias,
burlar desejos em melodias,
ele não queria se encantar.
- No peito daquele homem, havia um amor
escondido, trancado por cadeados, sofridos, do qual não queria lembrar, a
ultima coisa que queria, naquele momento, era uma outra mulher em sua vida, não
queria reviver a partida, naquele quarto de hotel barato, com janelas de
madeira e os dois vidros inferiores quebrados, com uma porta sem chave, e
algumas baratas que ousavam perambular por ali. -
E no meu peito? na minha alma havia
facas afiadas, cravadas ao fundo. Mas eu não queria pensar nas dores, queria
apenas olhá-lo, apenas sentir seu som. Sua dor era tão profunda que cada nota
que ele tocava era como se fosse um grito de liberdade. Em sua música ele
poderia ser ele, poderia vomitar suas vontades perdidas, lacrimejar até virar
choro, ele podia sentir.
Todo aquele sentimento dolorido
me causava inóspita atração.
Fiquei ali, ali, os ponteiros do
relógio, daqueles relógios antigos de propaganda de cigarros, rodavam 1:00,
2:00, 3hs da manhã... Eu ali.. mais um whisky, mais um cigarro, mais uma
cruzada de pernas, mais alguns rabiscos no guardanapo sujo.
O dono do bar pede para ele
parar de tocar, já eram 4hs da manhã, e só havia eu, ele e o dono do bar. O
velho chegou perto de mim e pediu desculpas, dizendo que já estava tarde e que
não poderia manter o estabelecimento aberto só por causa dos meus whiskys.
Agradeci a "hospitalidade" respirei fundo, levantei e fui em direção
à rua.
Caminhando sozinha, pensando,
fiquei imaginando o que aquele homem e sua guitarra fariam ao sair dali. Talvez
ele chegasse em seu quarto sujo e se embriagasse de vodka barata, deitasse em
sua cama com lençol nunca trocado e dormisse até a hora de ir para aquele bar,
até a hora que ele pudesse transformar suas angustias em sonoridades abstratas.
Talvez ele simplesmente chegasse em sua morada e fosse direto dormir. Ou, por
fim, ele nunca dormisse, ele nunca deixasse seus olhos fecharem para que não
pudesse sonhar com ela.
Enquanto eu caminhava só,
naquele percurso deserto, pensando, confabulando possibilidades, mergulhada em
meus pensamentos e desatenta ao mundo que ali me rodeava, sinto um puxão no
braço, e algo me joga contra a parede. Sim. Era ele. Me jogou de tal maneira
contra a porta de uma loja, que só fui perceber do que se tratava quando senti
sua língua invadir a minha boca, e deus dentes morderem meus lábios, com tanta
sofreguidão, tanta volúpia, que a minha reação foi passear a minha mão por
aquele corpo e agarrá-lo, pondo seu corpo contra o meu.
Suas mãos passeavam pelo meu
corpo a procura de um lugar o qual ele pudesse tocar a sua música. Ele tocou
meus seios e os beijou, vorazmente, ali, no meio da rua, a mercê de olhos
curiosos. Suas mãos se alojaram em meio as minhas pernas e ele me tocou como se
eu fosse a melodia mais suave de seus blues calorosos. Eu era dedilhada como se
fosse a música mais bonita, porém, com movimentos fortes, muitas vezes
esdrúxulos, porém, cada compasso, cada pausa, todos os movimentos possíveis de
um blues rasgado, me faziam estremecer nas mãos daquele desconhecido.
Eu não tinha reação, eu
simplesmente me deixei levar pelo som, aquele som, aquelas mãos faziam o som.
Ele pegou nos meus cabelos e me induziu a
ficar de costas á ele, nada muito delicado, tudo muito rápido, forte,
inesperado. Subiu meu vestido e quase rasgando pôs minhas vestes íntimas de
lado e me preencheu. Eu sentia cada centímetro me invadindo, cada veia pulsante
dentro do meu corpo, me molestando, me devorando. Sua boca mordendo meu
pescoço, sua respiração em meu ouvido.
Eu, ali, jogada aos prazeres
estranhos.
Era como ouvir Jimi Hendrix, uma
vontade imensa de dançar, ir de acordo com psicodelia das notas.
Ele em mim, eu dançando nele...
a rua, o dia amanhecendo, mãos que arranham, que puxam para perto, bocas se
lambuzando, e o fim.
Chega ao pé do meu ouvido, me
preenchendo cada vez mais forte, brutalmente e sem carinho, e diz..
- Chega.. já dei o que você queria, ou acha
que não lhe vi me devorar com os olhos? Não vi você desejar que eu lhe
desejasse também? Agora some de perto de mim. Mulheres como você só servem para
enlouquecer aqueles que só querem sossego.
Me prensou contra a porta da loja,
chegou ao ápice de suas vontades carnais, se recompôs e me deixou ali, meio
nua, meio mole, um tanto quanto feliz....
Não dou uma sorte de encontrar uma dessas pela rua, rsrsrs!
ResponderExcluirParabéns pela desenvoltura com a qual relata o acima, palavras, trocadilhos, sentimentos; vc sabe como fazer como expor sem ferir os bons costumes, tudo q vem da sua cabeça passa pelo teu coração e é transcrito pelos pelos seus dedos é puro, inocente, apesar de não parecer.
tu é foda, assim como sua música! Não sou muito de ler mas vc prendeu minha atenção de tal forma q devorei parágrafo por parágrafo, palavra após palavra.
escreva mais sobre o q nem imagina ou ja tenha sentido vontade de escrever, com sua imaginação avassaladora vai descobrir a si mesmo e fazer muitos leitores felizes, felizes por saber que ha gente como você que escreve com a alma dispertando em quem lê seus contos, o improvável como se o infinito fosse logo ali.
parabéns novamente!
São poemas e não convites. Não há nenhuma intenção da minha parte de me encontrar com os leitores para realização de fantasias.
ResponderExcluirQualquer comentário feito indevidamente será deletado.